sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A vida sempre tem outros detalhes

Calma! Não precisa ter um ataque,não precisa mandar tudo pro inferno
tá,eu sei que você tá cansado também das pessoas te pedirem calma o tempo inteiro
Relaxa,fica bem,isso passa!
Eu sei que é chato às vezes esperar o tempo passar
é chato esperar a situação acalmar
é chato perceber que a vida não é nada que se aproxime daqueles contos de fadas que ouvíamos quando éramos pequenos
Mas quando éramos pequenos também,não nos diziam no conto de fadas que poderiam existir na vida tantas coisas boas,tantos prazeres inimagináveis
Contavam do beijo da princesa e do príncipe,mas não contavam da sensação alucinante que pode ser tocar os lábios de alguém com os seus
Contavam do baile,mas não contavam pra gente que dançar é se transportar muitas vezes para aquele mundo que a gente criou,exatamente como a gente quer
Contavam que era muito legal a amizade da princesa com os animaizinhos,mas não contavam também o tamanho da magia que é ter e ser amigo de alguém
Porque a vida sempre tem um outro lado,a vida sempre tem outros detalhes
Que não,ninguém nos conta nem quando somos crianças crentes no mundo e nem quando crescemos e estamos percebendo a malícia que o mundo esconde atrás de sorrisos enganosos
Porque tem coisas que nós devemos aprender sozinhos,sem que ninguém nos ensine,sem que ninguém nos sugira antes que é bom
Tem coisas que devemos perceber sozinhos,encontrar a alegria sozinhos,descobrir os prazeres sozinhos,ir muito além de tudo aquilo que nos ensinaram a vida inteira
Porque senão,seremos para sempre aquelas crianças crentes no mundo resumidas à magia dos contos de fadas.



texto escrito em 2007.

É, Caio...

É, Caio, você tem TODA razão. Escrever é tirar sangue com as unhas. Dói, dói, realmente dói. E quanto mais chafurdada a ferida, mais esse processo vai doer. Mais vai te cortar, te rasgar, te decompor. Quem garante que após isso você irá se recompor? Às vezes tenho medo de nunca mais voltar a ser a mesma depois de algum texto, depois de algum verso, depois dessa dor toda.
O medo de penetrar em si mesma se torna aterrorizante, assustador. O medo de ouvir os próprios passos, enxergar a própria sombra, se afogar no seu próprio rio. O medo de ser visto. Por inteiro. É irônico, queremos gritar pro mundo e ao mesmo tempo queremos que ninguém sequer desconfie que a gente sente.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ao meu bebê

As pessoas dizem que não era sua hora. Que você veio cedo demais. Que era pra eu sentir você dentro de mim daqui há alguns anos somente. Que você agora vai mudar tudo dentro e fora de mim. Eu sei, bebê. Eu sei que as pessoas têm razão. Eu as entendo. Mas muito mais que a elas, eu entendo você.
Bebê, se eu não te tivesse, se você não existisse, estaria o meu coração batendo tão forte? Eu me sentiria tão ansiosa, tão à flor de mim mesma, tão humana?
Ah bebê, eu entendo tudo o que as pessoas dizem, mas é tão bom...eu não consigo explicar o quão grande é minha alegria ao sentir você dentro de mim, mesmo que o mundo lá fora não entenda e não possa entender essa alegria.
Mas também, bebê, quem poderia entender? Quem poderia entender se só ninguém te sente, só eu te sinto? Quem poderia entender se ninguém mais cuida de você? Acho que na verdade não daria pra entender mesmo. Por isso entendo as pessoas, porque elas não entendem você.
Elas não entendem que você me deixa forte, que você me faz guerreira, que você me deixou tão, mas tão mulher...As pessoas não entendem, bebê...por quê de repente pensar nos seus olhinhos se tornou mais importante do que saber qual será meu próximo sapato caro, elas não entendem por quê imaginar o seu cheirinho se tornou mais divertido do que frequentar festas. Elas não entendem, bebê. Mas como poderiam? Só eu te sinto, é dentro de mim que você tá, não é?
Como as pessoas poderiam saber o quanto você me move, o quanto você significa? Elas não poderiam saber, poderiam? Não bebê, só eu consigo.
As pessoas dizem que não era sua hora ainda, que você chegou cedo demais, mas, me diga, se você viesse daqui a alguns anos, você ainda seria você? Você ainda teria esses olhinhos que ainda não olhei? Essa mãozinha que ainda não toquei? Esse cheirinho que ainda não senti mas que já sei que é o melhor do mundo? Seria você? Não seria bebê. Seria outra pessoa. Então tá tudo bem, então tá tudo certo porque eu não quero mais ninguém porque eu já amo você.





(um heterônimo meu adolescente)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Detesto gente fria. De frio já basta o mundo e toda sua crueldade. Gosto de gente calorosa, que abre o coração, que confia, que se entrega, que arrisca um passo sem se preocupar com a possibilidade de um tombo.
Gosto de gente que abraça, que fala o que tá sentindo, que sorri largado quando tá feliz, que chora quando tá triste. Gosto de gente normal, que sente frio, fome, saudade, angústia, alegria. Gente que fica grande quando tá com coragem e pequeno quando tá com medo. Gente que se assume, que se admite, que confessa pra si e pro mundo que é apenas gente.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Eu não sirvo pra esse mundo

Eu não sirvo pra esse mundo. Essa é a conclusão que sempre chego, quando sinto dor de barriga, aquele nervoso, invadindo meu corpo cada vez que não concordo. Aquela, que não me deixa engolir nada mesmo morrendo de fome. Quando olho pela janela e enxergo o céu feio, e sinto o coração gelado, e parece então que não bate.
Tenho sentido minhas lágrimas secas, tão cansadas de chorar, como se tivessem percebido que algo realmente encrusteceu, encarapaçou, em uma frieza tão absoluta que não me sinto mais.
Eu não sirvo pra esse mundo. E percebo cada vez que sinto meus sentimentos se rebelarem dentro de mim, que sinto que não tenho nenhum controle, que sinto que não há mais refúgio, nem caminho, que tampouco encontro o sentido.
Precisava parar, frear, mas não tenho conseguido sair de mim nem por um minuto. É preciso sair da gente nesse mundo sombrio, sabia? É o que meu pai sempre me diz, e briga comigo: por que você não consegue ficar quieta? por que tem que falar tudo o que sente? você vai se ferrar muito na vida!
Me dá vontade de falar, é porque esse mundo não serve pra mim. Minha alma perturba, minha alma agoniza, fico buscando confortos que são simplesmente temporários, porque na verdade, eu já tentei, e não consigo, não é possível sair de mim.